quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Homilia - tropeiros

Começo agradecendo, ao Grande Patrão Celestial
Por todo bem que nos faz, livrando-nos de todo mal
A Jesus o bom Tropeiro, que trouxe a paz universal
E ao Espírito Santo Vaqueano um obrigado Especial.

E antes de prosseguir, por que também eu não daria
Um obrigado à Primeira Prenda, a sempre Virgem Maria
Que como mãe me protege, nas campereadas do dia
E quando a noite fica escura, é ela minha estrela guia.

Ao Patrão desse rodeio também quero agradecer
Por este momento de reza, que faz nossa fé crescer
Pois nessa Missa Crioula, uma prece queremos fazer
Para que este rodeio crioulo, na paz possa transcorrer

Ao nosso grande Paulo Aripe, padre, servo e peão
Que com coragem e brandura, trouxe a Igreja pro galpão
Fazendo da Missa Crioula, um esteio da tradição
Me curvo com humildade, e lhe agradeço de coração.

E a essa gauchada amiga, que veio pro rodeio da Vacaria
Sejam todos bem-vindos, trazendo paz e harmonia
Que vivamos aqui irmanados, cultivando a simpatia
E que nossa alma gaúcha, sinta o frescor da alegria.

Falando em alma gaúcha, por vezes tenho agonia
Quando vejo a bota e a bombacha, se tronando fantasia
Também o vestido da prenda transformado em alegoria
Pra enfeitar o carro andor da semana Farropilha.

É como dizia Jesus o Bom Tropeiro: Cuidado com o estranho
Pode ser um cabra bom, ou talvez índio tacanho
Que um dia te rouba uma ovelha, noutro te leva o rebanho
E quando tu perceberes, o estrago já foi tamanho.

Só Eu sou o bom Tropeiro, já dizia o Bom Jesus
Deu vida pelo rebanho, morrendo um dia na cruz
Mas ressurgindo dos mortos, tornou-se caminho de Luz
E para cumprir sua missão, ao Patrão Celestial nos conduz.

Como cordeiro inocente, entregou sua própria vida
Trazendo de volta a ovelha, que no mundo andava perdida
A tratou com amor e carinho, curando a sua ferida
E ainda deu o seu Corpo e o seu Sangue, pra lhe servir de Comida

Tudo isso meus amigos, Ele fez com grande amor
Tirou-nos das trevas da morte, e deu-nos a luz e o calor.
Mas de nada terá adiantado, se se perdermos o grande Valor
E mudarmos a ordem deixada, por Deus o nosso Criador.

Por isso eu volto ao tema, que muito me angustia
Quando vejo um piasito, um rapaz ou uma guria
Vivendo o modismo de hoje, feito de fantasia
Dizendo que valores de outrora, não passam de porcaria.

Com o que entra no teu rancho tome cuidado patrão
Hoje voa como carancho, e não pelo portão
Fica na surdinia espreitando, até tu apertar o botão
É o computador e a internet, de costado a televisão.

Se eu dissesse que eles não prestam, seria um índio sem noção
São obras da mão humana, com a divina inspiração
É certo que nasceram pro bem, fazendo aproximação
Diminuíram as distâncias do mundo, facilitando a comunicação.

Porém o mau uso dos meios, é coisa que se há de temer
Pois tem tanto índio maleva, que não se pode esquecer
Que usam e abusam dos mesmos, pra sua ganância e prazer
E pintam matizes no diabo, querendo a verdade esconder.

Quando Deus criou o mundo, deixou uma ordem natural
E tudo vai contra ela, lhe asseguro: é obra do mal
Por isso não vá na onda, do tanto faz e tudo é legal
E o respeito pelo diferente, não significa tornar-se igual.

Respeito a moda caipira, sem deixar a cantiga campeira
Se lá tem pagode e viola, aqui tem bugiu e vaneira
E parece que ainda escuto, numa tarde domingueira
A gaita do meu avô, tocando o xote laranjeira.

Foram meus tempos de guri, e eu sei que não voltam mais
Mas guardo o que aprendi, com meus avós e meus pais
Uma vida regrada e segura, por valores que são imortais
E por mais que o mundo vire, eles não mudam jamais.

A família é o grande valor, que todos precisam cuidar
A memória dos ante-passados, com carinho devemos guardar
Os anos vividos de um homem, aprendi a respeitar
E seus sábios conselhos, eu gosto de escutar.

Á Virgem da Oliveira, que veio além do mar
Escolhendo Vacaria, com sua casa e seu lar
Queremos neste momento, a Ela nos consagrar
E com sua Santa proteção, queremos sempre contar.

E a São Pedro, Capataz da querência, também peço proteção
Pro guri e pra guria, pra patroa e o patrão
Pro ginete, pro laçador e pra quem abre o portão
Pra quem ta acampado no mato, ou arranchado no galpão.

E pro nosso rodeio Crioulo, pedimos ao patrão celestial
Proteção, paz e alegria, numa benção especial
E junto com o Filho e o Espírito, nos livre de todo o mal
E que Nossa Senhora nos cubra, com seu poncho maternal.


pe. Olívio Lúcio Dembogurski
Rodeio de Vacaria, 29 de janeiro de 2012.